Projeto Noleedi estuda efeito do fogo sobre aranhas no Cerrado e Pantanal

em 1 de junho de 2023

Bruno Arguelho montando armadilha para invertebrados. Terra Indígena Kadiwéu. Foto: arquivo pessoal.


Em sua fase de conclusão, o Noleedi divulga mais uma pesquisa científica cujo objetivo é verificar como os diferentes regimes de fogo afetam a fauna de aranhas de solo no Cerrado e Pantanal, mais precisamente na Terra Indígena Kadiwéu. Os estudos estão avaliando como a frequência de fogo nos últimos 20 anos afeta a riqueza, a abundância e a composição de espécies. Trata-se da pesquisa de doutorado “Os efeitos do fogo da inundação sobre a fauna de aranhas no ecótono Cerrado-Pantanal”, do biólogo, mestre em Ecologia e Conservação e aluno do doutorado em Ecologia e Conservação da UFMS, Bruno Arguelho Arrua.


Orientado pelo coordenador do Projeto Noleedi, o professor doutor Danilo Bandini Ribeiro, Arrua iniciou as coletas de materiais biológicos (aranhas) e de dados em oito viagens ocorridas entre junho de 2021 e  fevereiro de 2022. Desde então foram iniciadas as  triagens, identificação do material coletado, análise dos dados e redação científica do manuscrito que vai se tornar a tese de doutorado.


Fogo é benéfico para aracnídeos da ordem Solifugae


Paralelamente Bruno Arrua desenvolveu também uma pesquisa para verificar os efeitos do fogo sobre uma ordem chamada Solifugae, também de aracnídeos,  que ocorre na Terra Indígena Kadiwéu. Esses organismos são conhecidos como aranhas do sol ou do deserto e pertencem a uma ordem diferente das aranhas. Para o Estado de Mato Grosso do Sul esse aracnídeo é pouco estudado. Na verdade esse foi um dos primeiros registros para o Estado de Mato Grosso do Sul, inclusive compreende uma nova espécie da ordem Solifugae que está sendo identificada por um especialista.


Área de pesquisa após queima prescrita. Estudo verificou que o fogo é benéfico para aracnídeos da ordem Solifugae. Foto: arquivo pessoal Bruno Arguelho.

“Quando nós analisamos os efeitos da do fogo sobre a abundância desse organismo nós observamos que tanto a frequência como o período em que o fogo ocorreu, tardiamente ou precocemente, não afetam a abundância deles. O que afeta a abundância desses organismos que são solífugos é o fogo mais recente, fogo que aconteceu imediatamente naquele ano em que nós comparamos, nos locais onde nós coletamos os solífugos antes do fogo e depois do fogo no ano de 2021”, revela Arrua. Os estudos perceberam que 30 dias após a ocorrência do fogo a abundância de solífugos aumentava significativamente, revelando que existe um efeito benéfico do fogo sobre estes aracnídeos.


“Então, esse caso dos solífugos aumentarem logo após a a ocorrência dos incêndios nós tentamos explicar que logo após o fogo há uma rebrota da vegetação muito rápida. A vegetação desse ecótono Cerrado-Pantanal é super adaptada ao fogo e logo após ela já se recupera rapidamente. E essa rebrota ela atrai insetos que são herbívoros. Esses insetos são predados pelos solífugos, que são excelentes predadores. Como todo aracnídeo eles se alimentam de insetos, de outros invertebrados”, conclui Arrua.


A tese de doutorado de Bruno Arguelho Arrua está prevista para ser concluída até setembro de 2023, quando então serão conhecidos os efeitos do fogo sobre as aranhas.


O “Projeto Noleedi – Efeito do fogo na biota do Pantanal sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação” é uma iniciativa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que pesquisou os efeitos do fogo no Cerrado e Pantanal. O projeto iniciou em janeiro de 2019 e foi executado na Terra Indígena Kadiwéu, que possui cerca de 540 mil hectares localizados no norte do município de Porto Murtinho, sudoeste de Mato Grosso do Sul.


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Vídeo: Projeto Noleedi. Captura de aranhas como bioindicadores em áreas de estudo do fogo






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