Pesquisa do Projeto Noleedi revela importância da Terra Indígena Kadiwéu para conservação de mamíferos

em 1 de junho de 2023

 

Figura 1.  Imagens capturadas das armadilhas fotográficas com as espécies mais encontradas: Mazama gouazoubira - veado-catingueiro (A), Tayassu pecari - queixada (B), Pecari tajacu - cateto (C), Tapirus terrestris - anta (D) e Cerdocyon thous - lobinho. E a espécie menos encontrada pela câmera foi a Puma yagouaroundi - gato-mourisco (F). Fonte: Anny de Morais Costa

Em sua fase final de execução o Projeto Noleedi divulga os dados de mais uma pesquisa científica que revela que a Terra Indígena é uma importante área para conservação e preservação de mamíferos. Trata-se da monografia de mestrado sobre ecologia de comunidades “Os efeitos do fogo sobre os mamíferos de médio e grande porte”, realizada na Terra indígena Kadiwéu, que fica em Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul. A autora do estudo é a bióloga da UFMS e mestre pelo Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da UFMS/Inbio (Instituto de Biociências), Anny de Morais Costa.

 A pesquisa que começou em 2020 e terminou em 2022 teve como objetivo verificar a influência do fogo sobre a mastofauna de médio e grande porte, avaliando o histórico do fogo dos últimos 17 anos em uma faixa transicional do Cerrado e Pantanal com os diferentes períodos de queima: precoce ou modal e tardio. A queima precoce antecede o período da seca; a queima modal acontece no auge da seca e a queima tardia no início das primeiras chuvas.


Orientada pelo coordenador do Projeto Noleedi, o professor doutor Danilo Bandini Ribeiro, e contando também com apoio do Ibama e do Prevfogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) a pesquisa fez quatro tratamentos para avaliar os efeitos do fogo sobre mamíferos: frequência alta com o período precoce, frequência alta com período modal tardio, frequência baixa com o período precoce e frequência baixa com período modal tardio. Para registrar as amostragens dos mamíferos foram utilizadas 40 armadilhas fotográficas colocadas em junho e julho de 2021.


Figura 2. Número de indivíduos de registro média de mamíferos de médio e grande porte em diferentes tratamentos de fogo, com barras de desvio padrão na aldeia Alves de Barros, localizada na Reserva Indígena Kadiwéu, Porto Murtinho, MS. Acima dados coletados em armadilhas fotográficas (A) e abaixo em transectos (B). Fonte: Anny de Morais Costa

Como resultados o estudo encontrou 21 espécies de mamíferos de médio e grande porte sendo que para o tratamento de queima de baixa frequência precoce foi encontrado maior número de registros assim como também maior número de riquezas. Já o tratamento de queima de alta frequência precoce e de baixa frequência modal tardio foram os que tiveram uma menor abundância ou menor registro encontrado de mamíferos. Ainda, o tratamento de queima de baixa frequência modal tardio também possui uma menor riqueza observada. As espécies mais encontradas foram o veado-catingueiro, o queixada, o cateto, a anta e o lobinho e as que apareceram apenas uma vez foram o gato mourisco e a irara (Figura 1).


A autora das pesquisas, Anny de Morais Costa, informa que nos dados coletados das armadilhas fotográficas a abundância e a riqueza dos mamíferos foram maiores nas áreas de fogo precoce e de baixa frequência mas as diferenças entre todas as áreas não foram estatisticamente significativas nem para abundância e nem para riqueza das espécies. Para a diferença da composição da comunidade, para as espécies, os dados coletados na armadilha fotográfica também não revelaram variação entre as diferenças do tratamento.


Concluímos então que os mamíferos de médio e grande porte, na sua maioria, não apresentam variações significativas na ocorrência dos diferentes tratamentos. Eles usam todo o mosaico da área queimada nos diferentes regimes de fogo. A região (Terra Indígena Kadiwéu) também tem uma grande relevância para conservação de mamíferos e aponta para uma boa importância na área para pesquisas de efeitos do fogo sobre a biodiversidade do Cerrado e do Pantanal”, ressalta Anny Costa.


Figura 3. Riqueza média de mamíferos de médio e grande porte em diferentes tratamentos de fogo, com barras de desvio padrão na aldeia Alves de Barros, localizada na Reserva Indígena Kadiwéu, Porto Murtinho, MS. Acima dados coletados em armadilhas fotográficas (A) e abaixo em transectos (B). Fonte: Anny de Morais Costa

O fato da abundância e a riqueza dos mamíferos nas áreas de fogo precoce, modal e tardio não apresentarem diferenças estatisticamente significativas foi algo inusitado encontrado no trabalho. A autora das pesquisas informa que serão feitos mais trabalhos para se entender melhor este resultado.


O “Projeto Noleedi – Efeito do fogo na biota do Pantanal sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação” é uma iniciativa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), aprovada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que pesquisou os efeitos do fogo no Cerrado e Pantanal. O projeto iniciou em janeiro de 2019 e foi executado na Terra Indígena Kadiwéu, que possui cerca de 540 mil hectares localizados no norte do município de Porto Murtinho, sudoeste de Mato Grosso do Sul.

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