Pesquisadores do Projeto Noleedi mostram resultados de estudo em TI Kadiwéu e participam de festividades do mês indígena

em 29 de abril de 2022

Colaboradora do Projeto Noleedi, Letícia Garcia, fotografa moradores da Aldeia Alves de Barros durante festividades. Foto: Alicce Rodrigues

Pesquisa sobre a eficácia do manejo de fogo feito pelas brigadas indígenas foi publicado em revista renomada e pesquisadores apresentaram os resultados na Aldeia Alves de Barros, em Porto Murtinho (MS)

Texto: Alicce Rodrigues


Os resultados do mapeamento dos últimos 18 anos de área queimada e focos de calor feito pelo projeto Noleedi na Terra Indígena Kadiwéu, em Porto Murtinho (MS), foram exibidos na Aldeia Alves de Barros para cerca de 200 indígenas na noite da última segunda-feira (18), durante as festividades da comunidade. A pesquisa concluiu que a área anual queimada diminuiu 50% em média e houve uma redução de 80% na frequência de incêndios florestais após início do trabalho das brigadas indígenas, que atuam na região desde 2009 em parceria com o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). 

Veja AQUI o vídeo apresentado na aldeia Alves de Barros

Noleedi significa fogo no idioma Kadiwéu. O projeto começou em 2019 na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) em parceria com o Prevfogo/Ibama para construir um respaldo científico sobre a efetividade do Manejo Integrado do Fogo (MIF) feito pelas brigadas indígenas. A pesquisa foi reconhecida e publicada pela Journal of Applied Ecology (Revista de Ecologia Aplicada), da British Ecological Society (Sociedade Ecológica Britânica) no dia 27 de fevereiro deste ano. 


O doutor em Ecologia e coordenador do projeto Noleedi, Danilo Ribeiro, diz que o MIF integra os saberes tradicionais indígenas sobre o fogo com as políticas de manejo. "As queimas tem o objetivo de controlar e diminuir a frequência de áreas queimadas ao mesmo tempo que beneficiam as comunidades que vivem nesses locais. Muitos relatam, por exemplo, que antes precisavam percorrer longas distâncias para caçar. Com a diminuição das áreas queimadas, mais frutas são produzidas e os animais aparecem mais perto dos moradores”. 


A doutora em Biologia Vegetal e colaboradora do Noleedi, Letícia Garcia, relata que o clima seco dos últimos anos formam as principais causas dos incêndios que atingiram valores recordes no Pantanal, mas a eficiência do trabalho das brigadas é capaz de alterar os padrões. “Se não há manejo de fogo nessas regiões, a quantidade de áreas queimadas depende dos dias secos, do clima. Descobrimos que durante a atuação das brigadas indígenas, mesmo com climas muito desfavoráveis e secos, a frequência dos incêndios foi menor”. 

Exibição do vídeo com os resultados da pesquisa. Foto: Alicce Rodrigues

Festividades Kadiwéu na Aldeia Alves de Barros

Após a exibição do vídeo de 30 minutos com os resultados, os coordenadores do projeto foram convidados a participarem das festividades. As festas na Aldeia Alves de Barros aconteceram entre os dias 15 até 19 de abril para celebrar a cultura Kadiwéu e relembrar a conquista dos territórios após a luta com o Brasil na Guerra do Paraguai. Entre as celebrações, a equipe Noleedi acompanhou o 6° Festival da Cultura Kadiwéu, que promove desfiles femininos para a escolha anual da Miss Indígena Simpatia e da Miss Indígena Kadiwéu. A designer Benilda Vergílio convidou Letícia para fazer parte dos jurados. “É sempre uma alegria termos pessoas de fora da aldeia acompanhando as festas e conhecendo a nossa cultura, principalmente aqueles que trabalham para nos ajudar e fortalecer a comunidade Kadiwéu. Organizamos os desfiles para valorizar as pinturas corporais com o grafismo e inspirar a produção dos trajes tradicionais”, conta Benilda, idealizadora do festival. 

Natália Pires, Miss Indígena Kadiwéu do 6° Festival da Cultura Kadiwéu. Foto: Mariana Arndt

No dia seguinte, a equipe participou das festividades no Dia dos Povos Indígenas, comemorado oficialmente em 19 de abril. Os homens se organizam de madrugada, acendendo o fogo em um buraco no chão para preparar o tradicional churrasco pantaneiro, enquanto as mulheres acordam cedo para cozinhar os acompanhamentos, também feitos em fogo de chão. As competições de dança femininas e masculinas acontecem durante a manhã, com a participação de todas as gerações Kadiwéus, desde crianças até pessoas idosas.

Foto: Mariana Arndt

Foto: Mariana Arndt

Apesar de já terem visitado a TI Kadiwéu em outras ocasiões, essa foi a primeira vez que Letícia e Danilo participaram das festividades. “A recepção foi muito acolhedora. Finalizando outros estudos, continuaremos informando a comunidade sobre os resultados do projeto”, afirma Danilo. Para Letícia, participar das celebrações foi um momento único e visitar a TI Kadiwéu é uma oportunidade de aprender sobre quais são as próximas necessidades para novas pesquisas. “A planta pau-santo, por exemplo, cuja seiva é utilizada nas cerâmicas produzidas pelas mulheres Kadiwéus, é encontrada em regiões distantes e de difícil acesso. Em um novo projeto que receberá apoio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, estudaremos em quais condições ambientais as populações se encontram e se é possível reproduzi-la mais próximo às aldeias”. 

Foto: Alicce Rodrigues


Foto: Mariana Arndt

Veja AQUI o vídeo feito pela Alicce Rodrigues sobre o evento.

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