Queimadas de 2019 mudam forma de amostragem do Projeto Noleedi

em 15 de abril de 2020

Do total de 540 mil hectares da TI Kadiwéu, 322 mil foram queimados. Recorde de focos de calor provocou alterações no Projeto Noleedi. Imagem: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)

O ano de 2019 ficou conhecido como o ano do fogo devido aos altos índices de queimadas que ocorreram no Brasil. Além da região amazônica, o Pantanal também foi uma área onde o fogo consumiu boa parte da vegetação. Com a Terra Indígena Kadiwéu, local de execução do Projeto Noleedi, não foi diferente. Com isso, muitas áreas de amostragem ficaram em chamas em um momento em que não deveriam. Tal fato fez a coordenação do estudo repensar o sistema de amostragem do projeto.

O Projeto Noleedi tem duração de 36 meses e teve seu início em janeiro de 2019. É uma iniciativa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Prevfogo-Ibama. Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pesquisa os efeitos do fogo na biota do Cerrado e Pantanal e suas interações com o regime de inundação.  A Terra Indígena Kadiwéu possui cerca de 540 mil hectares localizados no norte do município de Porto Murtinho, sudoeste de Mato Grosso do Sul. Noleedi, no idioma Kadiwéu significa fogo.

De 2001 a 2018, o Projeto Noleedi concluiu que foram queimados na Terra Indígena, em média, 124.217,9 hectares ou 23,9% de sua área total de 540 mil hectares. Nos resultados das análises, o ano de 2005 apresentou maior área queimada, com 316.624,2 ha, 61% da área total. O ano de 2014 registrou a menor área queimada, 23.039,1 ha, 4,4% da área total. Os dados agora estão contribuindo para as pesquisas sobre os efeitos do fogo na Terra Indígena Kadiwéu e ajudaram a definir as áreas a serem estudadas.
Incidência do fogo na Terra Indígena Kadiwéu. O ano de 2005 registrou, até então, o maior índice de queimas, enquanto 2014 o menor. Ilustração: Projeto Noleedi

No entanto, com o alto índice de queimadas ocorridas em 2019 na Terra Kadiwéu, o Projeto Noleedi teve que readaptar seu desenho amostral. Os incêndios de 2019 atingiram grande parte das áreas definidas para experimentos. Do total de 540 mil hectares, 322 mil foram queimados. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou mais de 1.200 focos de calor. O coordenador do projeto, o professor doutor Danilo Bandini Ribeiro explica as principais mudanças ocasionadas pelos incêndios do ano passado:

“A gente mudou de uma abordagem experimental, onde faríamos as queimas prescritas das áreas de acordo com as perguntas que queremos responder no projeto, para usar o histórico de fogo das áreas. Tínhamos quatro tratamentos e continuamos a ter quatro tratamentos só que eles mudaram um pouco. A partir de uma revisão da literatura percebemos que tem dois grandes temas em relação ao uso do fogo:  a frequência de fogo – quantas vezes aquela área queimou nos últimos anos, e outra é o período onde houve esse fogo – o fogo do primeiro semestre, que é o fogo considerado benéfico (período de chuva) e o fogo do segundo semestre, que é considerado ruim (período de estiagem). Dividimos as áreas em quatro tratamentos: área que tem baixa frequência de fogo, área que tem alta frequência de fogo, áreas que tiveram a última queima no primeiro semestre e áreas que tiveram a última queima no segundo semestre. Quando juntamos essas duas categorias têm-se quatro tratamentos com, no mínimo, três réplicas para cada um deles. Sendo assim, selecionamos algumas áreas pelo acesso, pela disposição espacial, que seriam as áreas mínimas de quem quiser trabalhar no projeto, para responder as perguntas da iniciativa.”
Reunião em novembro de 2019 para definir rumos do Projeto Noleedi com base nos índices de focos de calor registrados na Terra Indígena Kadiwéu. Foto: Fernanda Prado

O brigadista Silvio Xavier, morador da Terra Indígena Kadiwéu, acompanhou a equipe de pesquisadores do Projeto Noleedi em campo, como guia e no monitoramento de árvores, em fevereiro de 2020. Em 2019, Silvio integrou a equipe de brigadistas da Aldeia Alves de Barros e prevê um ano mais tranquilo quanto a intensidade de queimadas.

“Ano passado teve muita queimada não apenas aqui na TI Kadiwéu mas no Brasil todo. Aqui o fogo foi muito intenso e queimou bastante pasto. Ao redor da aldeia não queimou muito porque a gente aplicou a queima prescrita, queimou mais na região do Pantanal. Pela minha visão eu acho que esse ano vai ter menos incêndio, porque geralmente é de três em três anos que ocorrem esses incêndios mais intensos”.
Brigadista Silvio Xavier (amarelo) com integrantes do Projeto Noleedi em trabalho de campo em fevereiro de 2020. Esperança de menos focos de calor que o ano que passou. Foto: Fernanda Prado

Ao longo de 36 meses de execução o projeto pretende gerar dados sobre os efeitos do fogo ocorrendo em diferentes períodos (de seca e de chuva) e frequência (alta ou baixa) na biota da região, ou seja, no conjunto de todos seres vivos de um determinado ambiente ou de um determinado período; também vai verificar a interação dos diferentes padrões de inundação.

Confira o podcast Noleedi sobre o assunto:

Podcast 8: Readaptação do desenho amostral – versão estendida – 8’39”

Podcast 8: Readaptação do desenho amostral – versão compacta – 5’03”

Veja também:

Projeto Noleedi mapeia histórico de áreas queimadas na TI Kadiwéu com uso de softwares livres

Mapeamento do histórico de áreas queimadas em região sujeita a inundação, utilizando software livre e classificação não supervisionada: Um estudo de caso da Terra indígena Kadiwéu





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