Após um ano, Projeto Noleedi retoma atividades de campo

em 29 de abril de 2021


Há um ano com as atividades de campo paralisadas devido à pandemia do novo Coronavírus o Projeto Noleedi retorna agora, a partir da segunda quinzena do mês de abril de 2021, à Terra Indígena Kadiwéu. Diante da pandemia, o Projeto Noleedi – efeito do fogo na biota do Pantanal sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação, paralisou temporariamente parte de suas atividades. O objetivo foi evitar a transmissão da Covid-19 e respeitar as medidas preventivas adotadas desde o dia 17 de março de 2020 pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que substituíram as aulas e as atividades presenciais por estudos dirigidos com uso de ferramentas de Educação a Distância (EaD) e Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).

 

O Projeto Noleedi tinha acabado de reestruturar o desenho amostral devido aos incêndios de 2019 e estava no planejamento para o início das coletas dos dados de fauna. Apesar da pausa dos trabalhos de campo, o projeto continuou trabalhando remotamente, elaborando um mapa do histórico de fogo para uma região maior do que a Terra Indígena Kadiwéu. Outros materiais também foram produzidos e os alunos elaboraram a parte teórica dos seus projetos, fazendo revisão bibliográfica.

 

O Projeto Noleedi também suspendeu as visitas de monitoramento à Terra Indígena Kadiwéu, local de aplicação do estudo, em concordância à Portaria Nº 419 da presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai). A portaria estabeleceu medidas temporárias de prevenção à infecção e propagação do novo Coronavírus. A situação de emergência pelo novo Coronavírus começou oficialmente no Brasil no dia 6 de fevereiro, quando o presidente Jair Bolsonaro assinou uma lei recomendando a adoção do isolamento ou da quarentena como uma medida de segurança no território nacional. Quase um mês depois, no dia 17 de março, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, assinou uma portaria suspendendo as autorizações de ingresso em todas as Terras Indígenas do Brasil, isso para evitar que as pessoas de fora das aldeias levassem o vírus para as comunidades indígenas.

 

Além de restringir a entrada de pesquisadores e civis de fora das aldeias, o contato entre agentes da Funai ficou restrito ao essencial. Concessões para autorizações de entrada nas Terras Indígenas foram dadas apenas para a prestação de serviços primordiais às comunidades como de saúde, segurança, entrega de gêneros alimentícios, medicamentos e combustíveis.

 

Na Aldeia Alves de Barros, base de apoio ao Projeto Noleedi, foram adotadas diversas medidas de prevenção como o isolamento, encerramento de todas as atividades escolares, esportivas, reuniões, e proibição de entrada de qualquer pessoa na comunidade. No local foi instalada uma guarita para permitir a entrada de freteiros e de funcionários da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) com todos os cuidados: máscaras e uso de álcool em gel.

 


Atualmente, segundo Gilberto Pires, membro do Primeiro Conselho da Liderança Indígena Kadiwéu, a maioria dos moradores das aldeias com mais de 18 anos foi imunizada, tomando a primeira e a segunda dose para “continuar a vida sonhando um dia voltar ao normal”. Segundo Pires, a pandemia trouxe diversos impactos negativos principalmente por causa do confinamento “porque muita gente trabalhava fora e teve que retornar, foram dispensados do serviço, e tiveram que vir embora para suas aldeias, enfim ficavam aqui sem condições de se manter. Esse foi o grande impacto que tivemos, foi a falta de condições para sobreviver durante a pandemia porque muita gente ficou desempregada.” Com a ausência das equipes de pesquisadores do Projeto Noleedi em campo também houve impacto na geração de renda pois guias e cozinheira deixaram de prestar serviços.

 

Protocolo de biossegurança

 

Para o retorno das atividades de campo o Projeto Noleedi criou um protocolo de biossegurança e o submeteu às instâncias internas da UFMS como o Comitê de Biossegurança do Instituto de Biociências e também o comitê da própria universidade. O protocolo aprovado baseou-se no documento da própria UFMS e também do Conselho Regional de Biologia. O projeto também submeteu o protocolo à Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), para ver se havia alguma medida adicional e foi sugerido que os pesquisadores, antes de viajarem para a Terra Indígena Kadiwéu, precisariam fazer o teste de Covid-19 RT-PCR, mais seguro para detectar o vírus. Os testes serão feitos através da universidade e estando toda equipe negativada as viagens poderão acontecer.

 




O coordenador do Projeto Noleedi, o professor doutor Danilo Bandini Ribeiro, explica quais outras medidas estão sendo tomadas para evitar a transmissão e contágio da Covid-19: “Para impedir a transmissão da Covid-19 no Projeto Noleedi nós temos o nosso protocolo de biossegurança que tem várias recomendações como uso de máscaras, redução das equipes para ida a campo, todos serão testados antes de ir a campo, durante as atividades temos de usar máscaras, manter o distanciamento, procurar se encontrar com as pessoas em lugares abertos e fazer isso somente quando for extremamente necessário. A gente acredita que com todas essas medidas a gente vai conseguir retomar as atividades de campo sem que as pessoas da equipe se contaminem com o vírus e também que ninguém leve o vírus para dentro da aldeia. Uma coisa que dá segurança para a gente e que nos deu a perspectiva de voltar ao trabalho é que a população indígena já está vacinada no Estado, principalmente na Aldeia Alves de Barros, que é onde temos mais contato, todos estão vacinados com a primeira e segunda doses.”

 

Impactos da pandemia

 

Segundo Ribeiro, com a paralisação das atividades de campo alguns impactos negativos ocorreram no projeto. Um deles foi o atraso nas pesquisas. “A gente tem muitos alunos de pós-graduação envolvidos, então são projetos de mestrado e doutorado que têm um tempo fixo para serem finalizados e esse atraso gera um problema para as pessoas conseguirem terminar suas pesquisas no prazo. A maneira da gente reaver esse prejuízo é retomando o projeto com o que for possível dado o contexto da pandemia. A gente também vai tentar junto aos órgãos de fomento uma extensão do projeto, para que ele possa ter pelo menos mais 12 meses para finalizá-lo tendo em vista que ficamos um ano sem poder ir a campo. Nosso projeto tem muitas atividades de campo, então atrapalhou bastante a gente.”

 

Mas não foram apenas prejuízos causados pela pandemia no Projeto Noleedi. Também neste período a iniciativa registrou resultados positivos.  “Os principais resultados do projeto até o momento são em relação à efetividade do Manejo Integrado do Fogo (MIF), a gente está aí com o trabalho sendo finalizado. Em breve espero que ele seja aceito e publicado para a podermos mostrar como o MIF é efetivo na diminuição dos incêndios, além do outro aspecto, da elaboração de protocolos de coleta, de criarmos uma metodologia para diminuir os impactos do fogo, o que demandou bastante tempo, bastante discussão entre as pessoas e também a divulgação dessa temática que é sempre muito pouco divulgada e quando é divulgada tem muitas coisas erradas que são faladas a respeito do fogo, principalmente nos sistemas dependentes dele como é o caso do Cerrado e do Pantanal. Então acho que o projeto ajuda bastante a aumentar o entendimento das pessoas em geral sobre a temática do fogo. Acho que esse também é um ponto que a gente alcançou com o projeto, além da gente conseguir criar uma parceria muito boa com o povo Kadiwéu. Estamos tentando expandir um pouco nossas relações tentando começar algumas atividades voltadas à educação dentro das aldeias. Tudo isso são resultados positivos do projeto.”

 

Além disso, durante esse período de um ano a equipe de pesquisadores e parceiros do Projeto Noleedi atuou ajudando a democratizar informações sobre os incêndios no Pantanal participando em discussões, debates, palestras, artigos, reportagens e iniciativas on-line no Brasil e no mundo. Veja a matéria completa clicando aqui.

 

Sobre o projeto

 

O Projeto Noleedi teve seu início em janeiro de 2019. É uma iniciativa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Prevfogo-Ibama. Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto está pesquisando os efeitos do fogo na biota do Cerrado e Pantanal e suas interações com o regime de inundação na Terra Indígena Kadiwéu, que possui cerca de 540 mil hectares localizados no norte do município de Porto Murtinho, sudoeste de Mato Grosso do Sul. Noleedi, no idioma Kadiwéu significa fogo.

 

O projeto pretende gerar dados sobre os efeitos do fogo ocorrendo em diferentes épocas (precoce, modal e tardio) na biota da região, ou seja, no conjunto de todos seres vivos de um determinado ambiente ou de um determinado período; também vai verificar a interação dos diferentes padrões de inundação com os efeitos do fogo sobre alguns grupos-chave da biota local.

 

O Noleedi também vai criar de forma cooperativa e com o envolvimento de agentes do Estado, populações tradicionais e pesquisadores um protocolo de manejo do fogo e um protocolo de avaliação de impactos de incêndios na biota. Ainda vai avaliar o manejo do fogo como uma estratégia de restauração passiva, além de identificar traços que permitam selecionar espécies com potencial para serem utilizadas na restauração de ecossistemas sujeitos ao fogo. Assim, deve garantir recursos para a manutenção da fauna e o sucesso no recrutamento de novos indivíduos. Também será conhecido o efeito do fogo sobre a reprodução de espécies da flora utilizadas pela comunidade indígena.

 

O Projeto Noleedi conta com apoio do CNPq e parceria de diversas instituições, entre elas: Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul), Fertel (Fundação Estadual Jornalista Luiz Chagas de Rádio e TV Educativa de Mato Grosso do Sul), Funai (Fundação Nacional do Índio), Programa Corredor Azul/Wetlands International/Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal), Terra Indígena Kadiwéu Kadiwéu Kadiwéu e Rede Aguapé de Educação Ambiental do Pantanal.


O retorno do Projeto Noleedi às atividades em campo também virou tema do Podcast Informe Noleedi. Ouça na versão estendida ou compacta:


Podcast 17: Após um ano, Projeto Noleedi retoma atividades de campo – versão estendida – 14’31”


Podcast 17: Após um ano, Projeto Noleedi retoma atividades de campo – versão compacta – 11’25”

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