Conheça as medidas do Projeto Noleedi durante a pandemia do Covid-19

em 30 de abril de 2020


Professor doutor Danilo Bandini Ribeiro, coordenador do Projeto Noleedi. Pandemia adiou atividades em campo, como o estudo de grupos de fauna que iniciaria ainda no primeiro semestre de 2020. Foto: Arquivo Projeto Noleedi.

Diante da pandemia do novo Coronavírus, o Projeto Noleedi – efeito do fogo na biota do Pantanal sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação, paralisou temporariamente parte de suas atividades. O objetivo é evitar a transmissão do Covid-19 e respeitar as medidas preventivas adotadas pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), que substituem as aulas e as atividades presenciais por estudos dirigidos com uso de ferramentas de Educação a Distância (EaD) e Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). 


As medidas foram adotadas desde o dia 17 de março de 2020 e valem para todos os cursos de graduação e de pós-graduação de toda a universidade. O professor doutor Danilo Bandini Ribeiro, coordenador do Projeto Noleedi, explica as principais mudanças adotadas durante a pandemia do novo Coronavírus: “Sobre o Projeto Noleedi a gente parou na etapa de coleta de dados. Tínhamos acabado de reestruturar o desenho amostral devido aos incêndios que tiveram ano passado, e estávamos nessa nova etapa de coleta de dados e no planejamento para o início das coletas dos dados de fauna. A gente já tinha a maioria dos grupos de fauna planejando sua ida ao campo. Esta parte vamos ter que adiar porque agora é recomendação da UFMS e da Funai que a gente não vá a campo, então vamos ver como essa pandemia vai evoluir, quando poderemos voltar a campo. Se esse for um período muito longo veremos qual vai ser a solução que a gente vai ter para esse problema. Além disso estamos fazendo a parte remota do processo, estamos elaborando um mapa do histórico de fogo para uma região maior do que a Terra Indígena Kadiwéu. Esse mapa com algumas variáveis que estamos tentando correlacionar está numa etapa avançada de produção. Também estamos preparando algumas coisas para o campo, teve alguns materiais que mandei fazer e que ficaram prontos, os alunos estão elaborando a parte teórica dos projetos deles, fazendo revisão bibliográfica. Mas principalmente a gente está aguardando porque não tem prazo ainda para voltar, é tudo muito incerto.”

O Projeto Noleedi também suspendeu as visitas de monitoramento à Terra Indígena Kadiwéu, local de aplicação do estudo, em concordância à Portaria Nº 419 da presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai). A portaria estabelece medidas temporárias de prevenção à infecção e propagação do novo Coronavírus.
Agente em indigenismo da Coordenadoria Regional da Funai em MS, Keyciane Pedrosa durante o evento Wildfire 2019. Projeto Noleedi aderiu às recomendações da Funai de combate ao Coronavírus. Foto: Arquivo Projeto Noleedi

A agente em indigenismo da Coordenadoria Regional da Funai em Mato Grosso do Sul, Keyciane Pedrosa, explica por que houve a restrição de entrada de pessoas nas Terras Indígenas: “A situação de emergência pelo Coronavírus começou oficialmente no Brasil no dia 6 de fevereiro, quando o presidente Jair Bolsonaro assinou uma lei recomendando a adoção do isolamento ou da quarentena como uma medida de segurança no território nacional. Quase um mês depois, no dia 17 de março, o presidente da Funai, Marcelo Xavier, assinou uma portaria suspendendo as autorizações de ingresso em todas as Terras Indígenas do Brasil, isso para evitar que as pessoas de fora das aldeias levassem o vírus para as comunidades indígenas.”

Além de restringir a entrada de pesquisadores e civis de fora das aldeias, o contato entre agentes da Funai ficou restrito ao essencial. Concessões para autorizações de entrada nas Terras Indígenas são dadas apenas para a prestação de serviços primordiais às comunidades como de saúde, segurança, entrega de gêneros alimentícios, medicamentos e combustíveis. 

Na Aldeia Alves de Barros, base de apoio ao Projeto Noleedi, o vice-cacique e coordenador da Escola Estadual Extensão Porto Murtinho José Bonifácio, Gilberto Pires, relata como está a situação durante a pandemia do Covid-19: “A prevenção que nós estamos tomando aqui não é diferente. É isolamento, paramos com todas as atividades, esportivas, reuniões, as escolas estão paradas e não deixamos qualquer pessoa entrar na comunidade. Hoje temos guarita com pessoas lá e só entra mais ou menos os freteiros e a Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) com todos os cuidados: máscaras, álcool em gel. Então não tem diferença nenhuma, a minha sugestão é a mesma, se cuidar porque eu acho que o único remédio que nós temos hoje ainda é se cuidar no isolamento.”
Vice-cacique e coordenador da Escola Estadual Extensão Porto Murtinho José Bonifácio, Gilberto Pires (camiseta escura): Isolamento social é a principal atitude contra o Covid-19. Foto: Arquivo Projeto Noleedi

O Projeto Noleedi tem duração de 36 meses e teve seu início em janeiro de 2019. É uma iniciativa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Prevfogo-Ibama. Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto está pesquisando os efeitos do fogo na biota do Cerrado e Pantanal e suas interações com o regime de inundação na Terra Indígena Kadiwéu, que possui cerca de 540 mil hectares localizados no norte do município de Porto Murtinho, sudoeste de Mato Grosso do Sul. Noleedi, no idioma Kadiwéu significa fogo.

O projeto pretende gerar dados sobre os efeitos do fogo ocorrendo em diferentes épocas (precoce, modal e tardio) na biota da região, ou seja, no conjunto de todos seres vivos de um determinado ambiente ou de um determinado período; também vai verificar a interação dos diferentes padrões de inundação com os efeitos do fogo sobre alguns grupos-chave da biota local.

O Noleedi também vai criar de forma cooperativa e com o envolvimento de agentes do Estado, populações tradicionais e pesquisadores um protocolo de manejo do fogo e um protocolo de avaliação de impactos de incêndios na biota. Ainda vai avaliar o manejo do fogo como uma estratégia de restauração passiva, além de identificar traços que permitam selecionar espécies com potencial para serem utilizadas na restauração de ecossistemas sujeitos ao fogo. Assim, deve garantir recursos para a manutenção da fauna e o sucesso no recrutamento de novos indivíduos. Também será conhecido o efeito do fogo sobre a reprodução de espécies da flora utilizadas pela comunidade indígena.

O Projeto Noleedi conta com apoio do CNPq e parceria de diversas instituições, entre elas: Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul), Fertel (Fundação Estadual Jornalista Luiz Chagas de Rádio e TV Educativa de Mato Grosso do Sul), Funai (Fundação Nacional do Índio), Programa Corredor Azul/Wetlands International/Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal), Terra Indígena Kadiwéu e Rede Aguapé de Educação Ambiental do Pantanal.

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