Projeto Noleedi é destaque na 7ª Conferência Internacional Wildfire

em 20 de novembro de 2019

Prof. Danilo Bandini Ribeiro apresenta o projeto Noleedi durante a 7ª Conferência Wildfire. Foto: Fernanda Prado
O “Projeto Noleedi Noleedi - efeito do fogo na biota do Pantanal sul-mato-grossense e sua interação com os diferentes regimes de inundação" participou da 7ª edição da Conferência Internacional sobre Incêndios Florestais (Wildfire) que ocorreu entre os dias 28 de outubro a 2 de novembro de 2019, no Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A Conferência acontece a cada quatro anos e esta é a primeira vez que foi realizada no Brasil.

Um dos principais objetivos da Wildfire é a troca de conhecimentos entre profissionais de todas as nacionalidades ligados ao manejo do fogo e ao controle de incêndios florestais. Participaram do evento tomadores de decisão, autoridades, técnicos, pesquisadores e brigadistas. O tema da Conferência Wildfire 2019 foi "Frente a frente com o fogo em um mundo em mudanças: redução da vulnerabilidade das populações e dos ecossistemas por meio do Manejo Integrado do Fogo".

No evento, o Projeto Noleedi participou da Sessão Temática - Subtema 2: Conceito de Manejo Integrado do Fogo para Promoção e Estabilização de Ecossistemas Resilientes, que ocorreu na manhã do dia 29 de outubro. O coordenador do Projeto, professor doutor Danilo Bandini Ribeiro, avaliou a participação da iniciativa como muito boa. “A gente teve vários componentes do projeto que participaram, apresentamos a ideia do projeto, também participamos de uma palestra sobre como o projeto foi construído, em conjunto com o Prevfogo e as populações indígenas. E apresentamos também alguns resultados do projeto como o mapa da frequência de fogo e o mapa da vegetação reclassificada”, ressaltou Ribeiro.

Banner demonstra 18 anos de incidência de fogo na Terra Indígena Kadiwéu. À esquerda, Maxwell da Rosa Oliveira e o brigadista Rubens Ferraz e à direita, Bruno dos Santos Ferreira, doutorando do Programa de Pós Graduação em Ecologia e Conservação/UFMS e o brigadista Joamir Timóteo Ferraz. Foto: Fernanda Prado

Dados inéditos
Também na terça-feira, 29 de outubro, no período da tarde, o mestrando do Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal da UFMS, Maxwell da Rosa Oliveira, participou da mostra de banners onde apresentou os resultados da pesquisa em geoprocessamento que fez o levantamento da incidência de fogo na Terra Indígena Kadiwéu. “Nesse trabalho a gente está apresentando toda a metodologia que usamos para mapear o histórico de queima da região. Nesse histórico a gente fez o mapeamento desde o ano 2000 até o ano de 2018, foram 18 anos, e o que tem de importante aqui? Além do resultado do mapeamento, a metodologia para fazer o mapeamento usou só softwares livres, são programas gratuitos e abertos ao público, o que faz com que qualquer pessoa possa replicar esse trabalho, sem muito custo adicional e que apresenta um resultado acurado”, afirma Oliveira.

De 2001 a 2018, o Projeto Noleedi concluiu que foram queimados na Terra Indígena, em média, 124.217,9 hectares ou 23,9% de sua área total de 540 mil hectares. Nos resultados das análises, o ano de 2005 apresentou maior área queimada, com 316.624,2 ha, 61% da área total. O ano de 2014 registrou a menor área queimada, 23.039,1 ha, 4,4% da área total. Os dados agora contribuirão para as pesquisas sobre os efeitos do fogo na Terra Indígena Kadiwéu.

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Da esquerda para a direita: Fabíola Siqueira, CNPq, Carol Barradas,  ICMBio, Danilo Ribeiro, UFMS e o brigadista Indígena Rubens Aquino Ferraz. Foto: Fernanda Prado

Brigadas indígenas
Outra participação do Noleedi na tarde do dia 29 de outubro foi na Sessão Especial "Pesquisa, Gestão e Tradição no Manejo Integrado do Fogo: Desafio do Diálogo de Saberes". Integraram mesa redonda Carol Barradas, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que contou a experiência da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, e o coordenador do Projeto Noleedi, Danilo Ribeiro. Mas o destaque foi a palestra do brigadista do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e indígena Kadiwéu, Rubens Aquino Ferraz. Ele emocionou a todos ao assumir o nervosismo de sua primeira apresentação para um público nacional e internacional e seus sentimentos ao atuar junto a brigada indígena na Terra Indígena Kadiwéu. Rubens abordou o tema "As Brigadas indígenas do Prevfogo e o saber tradicional".

O Prevfogo-Ibama atua na Terra Indígena Kadiwéu desde o ano de 2000. A partir de 2011 passou a contar com brigadas com integrantes indígenas que atuam em ações de combate e prevenção a incêndios florestais e educação ambiental. Atualmente o Prevfogo-Ibama tem adotado o Manejo Integrado do Fogo, onde é trabalhado o resgate do conhecimento tradicional dessas populações, do uso tradicional do fogo pelas comunidades indígenas, tentando implementar, dentro das necessidades dessas comunidades, o uso racional do fogo, respeitando tanto a cultura como também o ambiente onde elas vivem.
Brigadista da Terra Indígena Kadiwéu, Rubens Aquino Ferraz, dá entrevista para TV Brasil. Foto: Fernanda Prado
“A gente aprendeu ao longo de todos esses anos bastantes coisas e têm pessoas que vêm de fora e também trazem o conhecimento e aprendem com a gente também. Quando a gente começou a trabalhar no Manejo Integrado do Fogo a gente já tinha um pouco de conhecimento, então nos aprimoramos mais ainda e é isso o que a gente busca, mais recursos, somar forças, e assim a gente continua nessa luta no Manejo Integrado do Fogo, porque nosso trabalho é a prevenção e combate. Essa é a nossa função na Terra Indígena Kadiwéu. Hoje estamos aqui participando desse evento, viemos também para participar de uma mesa redonda para falar um pouco do conhecimento tradicional nosso, do povo indígena Kadiwéu. Sabemos que tem muito brigadista indígena lutando também pelo Manejo Integrado do Fogo, que estão aplicando esse método que já era um conhecimento dos nossos avós, nossos parentes, mas que a gente não sabia como lidar com isso. Mas hoje, graças ao Manejo Integrado Fogo, juntamente com o Prevfogo-Ibama, em parceria com a UFMS, temos uma pesquisa (Noleedi) que está sendo desenvolvida”, afirmou Ferraz.

A brigada indígena tem papel fundamental no Projeto Noleedi ao acompanhar e ajudar os pesquisadores na identificação das áreas que estão sendo monitoradas e na sugestão de espécies da fauna e flora de interesse das comunidades presentes na região. O projeto vem de encontro com os princípios do Manejo Integrado do Fogo e a união entre pesquisa e conhecimento tradicional tem muito a contribuir para as comunidades locais. A brigada do Prevfogo-Ibama, além de estar contribuindo no desenvolvimento do projeto, vai ser uma grande beneficiada dos resultados que vão surgir, uma vez que o objetivo do projeto é traçar diretrizes de como e onde utilizar e qual a melhor época de se empregar o fogo.

O Projeto Noleedi
O Projeto Noleedi tem duração de 36 meses e teve seu início em janeiro de 2019. É uma iniciativa da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e do Prevfogo-Ibama. Com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o projeto está pesquisando os efeitos do fogo na biota do Cerrado e Pantanal e suas interações com o regime de inundação na Terra Indígena Kadiwéu, que possui cerca de 540 mil hectares localizados no norte do município de Porto Murtinho, sudoeste de Mato Grosso do Sul. Noleedi, no idioma Kadiwéu significa fogo.

A pesquisa conta com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e parceria de diversas instituições: Semagro (Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul), Fertel (Fundação Estadual Jornalista Luiz Chagas de Rádio e TV Educativa de Mato Grosso do Sul), Funai (Fundação Nacional do Índio), Programa Corredor Azul/Wetlands International/Mupan (Mulheres em Ação no Pantanal), Terra Indígena Kadiwéu e Rede Aguapé de Educação Ambiental do Pantanal.

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